Talvez você não conheça a sensação de desencantamento com o mundo, mas provavelmente você conhece alguém que está passando por esse desencantamento e você não sabe como ajudá-la já que você não entende o significado disso. E é claro que eu estou apenas supondo que você não conhece essa sensação, talvez você seja expert em desencantamento com o mundo e esteja procurando por alguém que esteja passando pela mesma coisa. Então, nesse caso, seja bem vindo ao desencantamento com o mundo, não precisa nem apertar os cintos para apreciar essa viagem maluca pela sensação desesperadora de que nada faz sentido, você perceberá que estar seguro é relativo.
O que é o desencantamento com o mundo? O desencantamento com o mundo não passa de uma sensação constante de não se importar com nada, de não sonhar, de não se permitir acreditar nas coisas como você acreditava antigamente e consequentemente ficar estagnado. Mas, Renata, você está descrevendo a depressão. Será? Será que o desencantamento com o mundo não tem sintomas parecidos com os sintomas da depressão? Será que as duas coisas podem estar ligadas? Eu não posso confirmar nada, não sou psicóloga, logo não consigo te dizer com convicção que uma coisa tem haver com a outra ou que as duas coisas são diferentes. Tudo o que você lerá neste artigo tem haver única e exclusivamente comigo, então nada de sair espalhando por aí que a Renata falou que o desencantamento com o mundo e a depressão andam de mãos dadas ou são coisas separadas, eu não disse nada disso! 😛
De uns anos pra cá, eu comecei a perceber que eu parei de desejar as coisas. Como assim, Renata? Sabe quando você tem 15 anos e você sonha dezenas de sonhos enormes e tem convicção de que todos aqueles sonhos se tornarão realidade? Pois bem, eu não consigo mais sentir isso. Eu não consigo mais acreditar nas coisas e muito menos acreditar que sonhos podem se tornar realidade.
E isso me incomoda muito, porque eu costumava sonhar bastante, mas por mais que eu me sinta incomodada, eu não consigo mais desejar as coisas, sonhar, sentir ou insistir. Eu simplesmente vivo como se sonhar não fosse mais uma opção dentro do meu cérebro, como se eu tivesse perdido essa habilidade e não conseguisse mais resgatá-la. E nesse ponto talvez você me diga: “Renata, mas isso parece muito com a depressão”. Sim, eu sei que parece! Inclusive, já pensei muito sobre isso, mas ao mesmo tempo que parece depressão, não parece, porque eu sou uma pessoa que está sempre trabalhando e interagindo com as pessoas que eu conheço, e talvez você me fale também sobre a depressão funcional, mas eu realmente não sei se esse seria o meu caso. (Quem sabe!)
Conversando sobre isso com o meu namorado, ele se lembrou de uma palestra do filósofo Mario Sergio Cortella (Qual é a tua obra?) e assistindo a palestra eu tive uma epifania sobre o que está acontecendo, de fato, comigo. Tem um momento durante a palestra onde o Cortella fala: “Quem ama, não desiste”. E a partir do momento em que eu ouvi essas quatro palavras tão simples, eu percebi que eu deixei de amar o mundo, que eu me desencantei com o mundo e a decepção foi tão grande que hoje eu não consigo mais sonhar ou acreditar que as coisas têm um propósito, porque a verdade é que não tem mesmo, mas quando nós ainda acreditamos no mundo, nós compramos essa ideia a ponto de sonhar, sentir e viver por algo. Mas quando nos decepcionamos com ele, nós simplesmente desistimos.
Leia também: Nostalgia | Uma Emoção Boa ou Ruim?
Está bom pra você?
Me desencantei com o mundo a ponto de não sentir mais nada, porque lá dentro da minha cabeça esse botãozinho foi desativado e eu não sei como ativá-lo.
E isso não significa que eu não veja mais beleza nas coisas. Essa é uma coisa das quais eu ainda consigo fazer, ver beleza no cotidiano, na simplicidade da vida e nos momentos mais pequenos. Mas, sonhar, insistir, lutar, viver por algo a ponto de só pensar naquilo. Essa configuração não existe mais no meu corpo e eu não consigo reverter essa situação.
E pode ser que você me pergunte o porquê dessa decepção, desse desencantamento tão grande e eu vou pedir pra você abrir as suas redes sociais e olhar para a vida miserável das pessoas. Um pior do que o outro, mas vivendo como se fossem os melhores. Talvez eu peça também pra você assistir a um jornal, tanta tragédia, tanta dor, tanto medo. Sem contar o fato de que a desigualdade social faz a gente perceber muito cedo que sonhar não é pra todo mundo.
Então, todos os dias, eu chego a conclusão de que o desencantamento com o mundo é inevitável, porque todos os dias nós somos saturados com informações tão ruins sobre a vida aqui na Terra, que é quase impossível manter a fé em alguma coisa.
E não existe uma saída, não existe um mundo cor de rosa onde todos os sonhos são fáceis de alcançar e onde as pessoas vivem felizes para sempre. O mundo, tão pequeno perto da imensidão do espaço, continua girando e nós continuamos vivendo e nos decepcionando até não vivermos mais e outras pessoas estarem vivendo e se decepcionando no nosso lugar.
Foto de Julia Mourão Missagia
Foto de Pixabay
