Sempre começa com uma ânsia.
O medo.
É como se não existisse saída.
Não há.
Mas as pessoas gostam de acreditar em contos de fadas.
Porque nos contos de fadas existe o famoso final feliz.
Nos enganamos ano após ano.
Promessas de reinos distantes.
Oceanos e desertos.
Mas tudo vai embora.
Do nada.
Como quando começaram a existir.
O que mais me dói é a inocência.
De quem vai sem saber que está indo.
Elas são crianças.
Animais.
Não importa.
A morte sempre dá um jeito de estragar as coisas.
Para a inocência também.
Para a cabeça tranquila que descansa no quintal.
O nunca mais é um nunca mais.
Mas os flashes da televisão são eternos enquanto estamos aqui.
A dificuldade que o meu corpo tem de aceitar tudo isso é enorme.
Nada faz sentido quando não foi feito para sentir.
E isso me mata todos os dias.
Assim como mata a criança que eu fui.
Um dia.
Um trem.
Minha vida nas mãos de quem?
Foto de Stanislav Kondratiev