Leia também a poesia: Divino.
Quando eu digo que estou triste,
eu não quero dizer que sou triste.
Eu só quero dizer que as coisas do mundo
machucam muito, tudo dói, inclusive, o
pouco tempo que nós temos aqui na Terra.
É como quando eu vejo uma pessoa
caminhando na chuva, voltando pra casa
ou entrando em um bar.
Tudo parece tão comum.
Mas o cotidiano me comove.
Nós nunca mais estaremos aqui.
Como todas as pessoas que já viveram
seus cotidianos e nunca mais voltarão
a vivê-lo.
Quando eu digo que estou cansada,
eu não quero dizer que estou fisicamente
cansada, é só o medo do tempo.
Como quando olhamos para o espelho
e não nos reconhecemos mais.
É o tempo, os meses, os anos passando.
Levando o melhor de nós e trazendo o pior.
Quando eu digo que gostaria de ter respostas, eu não
quero dizer respostas exatas ou certezas absolutas.
Eu sei que o mundo não funciona assim.
Eu só gostaria de dançar na chuva, sem o medo dos trovões.
Eu só queria ver a vida, sem o medo do que virá depois.
Mas eu sei que é impossível viver dessa forma.
Não temos escolhas e estamos presos.
Só resta o medo, as incertezas e a esperança de
que tudo isso aqui não tenha sido em vão.
Foto de Aleksandr Burzinskij
