Lindo, triste, problemático e intenso, essas são as palavras que eu usei para definir a história de amor entre Elio e Oliver no livro Me chame pelo seu nome. (Contém spoiler) A história começa quando Oliver chega na Itália para passar o verão na casa de Elio, pois o pai de Elio costuma deixar os alunos que estão se formando na faculdade passarem o verão na sua casa em troca de alguma ajuda com o seu trabalho.
Assim que Elio coloca os olhos em Oliver a história entre eles começa, porque a partir daquele momento não existe mais um antes e depois, apenas um agora eterno, cheio de possibilidades, ao mesmo tempo que não existe possibilidade nenhuma. Oliver tem vinte e quatro anos, Elio, dezessete. As possibilidades não deveriam existir. (A gente sabe que as possibilidades não deveriam existir).
O autor também sabe e é por isso que em nenhum momento André Acimam normaliza o relacionamento entre eles. Oliver se apaixona por Elio assim que o vê, mas ele mantém uma certa distância, porque ele sabe que é errado, ele sabe que Elio é muito jovem e que provavelmente nunca tenha tido contato, principalmente sexual, com outro homem.
A história se passa nos anos 80, então é fácil de imaginar o quanto era complicado ser homossexual naquela época, existia um preconceito enorme, as pessoas tinham que se esconder atrás de casamentos, filhos e uma família perfeita, porque se alguém desconfiasse, a vida da pessoa simplesmente acabava.
Durante o verão de 83, Elio e Oliver passam seus melhores dias ao lado da piscina, lendo e conversando. Mas isso não basta, eles sabem que não, eles sentem que precisam um do outro. Quando os dois acabam cedendo, eles passam a se encontrar em seus quartos, tarde da noite, e é aí que o problema começa a ficar mais evidente.
Depois da primeira vez deles, Elio dá uma surtada, é como se o que eles tivessem feito tivesse gerado algum tipo de arrependimento em Elio, ele amou, mas odiou, ele queria ficar o mais longe possível de Oliver, ao tempo que não queria ir para lugar nenhum.
O clássico comportamento de um adolescente de dezessete anos, que ainda não sabe direito como processar alguns acontecimentos. Por isso, a diferença de idade é tão problemática, porque enquanto Elio está no ensino médio, Oliver está na faculdade, experimentando vários corpos. Ele está, claramente, em paz com ele mesmo, Elio, ainda não.
Relacionamentos entre adolescentes e adultos nunca dão certo porque o adulto já passou pelo limbo, ele já foi até o limite de suas emoções e voltou, não intacto, mas convicto de que existe sobrevivência do outro lado. O adolescente ainda está no limbo, ele sente tudo um milhão de vezes mais intensamente do que um adulto e ele ainda não sabe que pode sobreviver a um coração partido.
Isso fica evidente quando Oliver diz para Elio que vai se casar. Elio fica imensamente quebrado, enquanto Oliver, por mais que ame Elio, sente que precisa seguir em frente. Os anos passam, as idades não fazem mais diferença nenhuma, mas Elio continua preso naquele adolescente de dezessete anos, apaixonado pelo rapaz que passou o verão de 83 em sua casa.
Existe uma ferida maior em Elio, porque ele era jovem demais para entender que as coisas nem sempre dão certo e que apenas de amor ninguém consegue viver. Oliver já sabia disso desde o início, por isso ele consegue seguir em frente com uma facilidade maior.
Lindo, triste, problemático e intenso, Me chame pelo seu nome nos mostra que a diferença de idade, um dia, deixa de fazer diferença, mas mostra também que as consequências de um relacionamento entre um adulto e um adolescente podem durar a vida inteira.
Clique aqui para ler um artigo sobre o livro Teto para dois.