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Cidades de Papel e o medo de viver

Você já parou pra pensar no porquê temos tanto medo de morrer? Vivemos ansiosos esperando que algo de ruim aconteça quando na verdade está tudo em paz, pelo menos por enquanto, pelo menos por agora. Somos tão absurdamente bombardeados com notícias ruins que acabamos paralisados e com medo de que alguma desgraça aconteça e não dê tempo de realizar aquela velha vontade de fazer uma viagem para Florianópolis.

Se nós sabemos que vamos morrer, por que nós não vivemos? Por que passamos dia após dia com medo não só de morrer, mas de viver também? Por que adiamos decisões importantes? Por que não tomamos aquele sabor novo de sorvete que chegou ali na sorveteria da esquina? Por que não dizemos ‘Eu te amo’ mais vezes? Medo. Medo de se expor demais, medo de ficar resfriado, medo de ser atropelado. Um medo de morrer que se transforma em medo de viver e quando nos damos conta, estamos tomando três tipos de remédios para controlar o nervosismo.

Margo vive bem, vive livre e quer que Quentin seja assim também. Ela até chega a dizer que o para sempre é composto de ‘agoras’ e eu acredito fielmente no que ela disse. Ela é maluca? Talvez. Ou talvez, o maluco seja o Quentin, que nunca teve uma noite tão emocionante até Margo invadir seu quarto de madrugada e o levar para uma noite de aventuras. Que noite! As luzes dos postes da interestadual iluminando o rosto sereno da menina que Q tanto amava. A liberdade de dirigir sem rumo, fugitivos pela cidade, uma amizade a tanto tempo perdida, sendo reencontrada. Livres. Vivendo. Respirando. Se emocionando.

De todas as lições aprendidas com o livro Cidades de Papel, essa foi a mais importante para mim, o medo de viver. Medo de sentir medo. Medo da solidão. Medo de comer demais e engordar. Medo de hospital. Medo de ser abandonado. Medo do futuro. Medo. Um sentimento tão negativo que derruba até o mais valente dos homens e o reduz a um menino perdido, com medo de um fantasma que o assusta quando as luzes se apagam. Pobre menino, mal sabe que o fantasma não passa de uma brisa que entra pela janela e faz a cortina balançar.

A maioria dos demônios que te atormentam não passam de ilusão, não passam de um futuro que você não conhece ainda, mas que te dominam tanto que te deixam de estomago embrulhado o dia todo. E esse futuro te deixa tão mal que você prefere não comer direito, ou viver direito, ou pensar direito, porque segundo sua experiência com o medo, ele irá embora se você deitar e dormir um pouco. Mas olha só! Já se passaram horas, dias, semanas, você precisa reagir.

Eu sei que não é fácil, mas pega um café e vamos conversar. Sentir medo não é uma das melhores coisas da vida, mas você está vivo, não está? Você vai sentir medo. Você vai ter uma crise e querer dormir o dia todo, mas não vale a pena se esconder. Não vale a pena perder a vida com medo de perde-la. Não vale a pena desperdiçar seus dias com medo de não ter mais dias para viver. É normal se assustar com a vida e querer ficar deitado em posição fetal, mas logo tudo se ajeita. Tudo passa, até mesmo as crises, você vai ver.

Faça como o Quentin, que mesmo com medo, saiu feito um louco atrás da Margo pelo país inteiro. Algumas coisas deram errado, mas eles consertaram. Eles se perderam, mas em algum momento se encontraram e no fim de tudo a menina desaparecida ainda fez ele aprender uma lição. A vida é curta e bonita demais para o comodismo. Ela é cheia de amor, mas também cheia de perigo. Se pararmos para pensar somente no que pode dar errado, nunca vamos viver. E no final de nossas vidas descobriremos que poderíamos ter morrido uma única vez, mas como passamos a vida toda com medo, morremos mais vezes do que deveríamos morrer.

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