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Pessoas Normais é um livro estranho, que incomoda. Ele é como um espinho na carne, dói porque o espinho machuca, mas é impossível deixar que o espinho seja retirado, é como se o espinho fosse necessário, como se ler esse livro fosse obrigatório.
Connell sou eu e eu sou o Connell, talvez seja por isso que o livro tenha me incomodado tanto, porque eu me identifiquei muito com ele. E não é por causa da popularidade dele na escola, nem porque ele é um cara adorável, mas por causa de seus pensamentos sobre a vida, suas angústias, sua depressão, seu modo tão humano de enxergar a vida.
A Marianne é incrível, mas ela não sabe disso, ela prefere se enxergar pelos olhos dos outros e na cabeça dela todo mundo a enxerga como um lixo. Não, como menos do que isso, como um cisco voando sem direção. Ela passa a vida toda se desculpando, deixando as pessoas pisarem nela e isso reflete nos seus relacionamentos com os homens. Sempre encontrando caras que a machucam psicologicamente e fisicamente. É como se ela buscasse algum tipo de punição por algo que ela não sabe que fez.
A relação dela e do Connell também é problemática, principalmente porque no começo o Connell fica com ela escondido, como se tivesse vergonha de ser visto com a menina estranha da escola. Os anos passam e os papéis se invertem, ela é a menina popular da faculdade e ele um menino estranho do interior, sem amigos. Mas apesar das diferenças que sempre acompanham os dois, eles são sempre atraídos de volta para essa relação de amizade/amor, porque apesar dos problemas que cada um enfrenta, eles podem sempre contar um com o outro. Eles se entendem e isso basta.
Eu comecei a ler esse livro e parei na metade porque a história do Connell e da Marianne é uma história que incomoda. Eles são tão humanos, que é quase um pecado o livro ser tão real. Os livros deveriam nos levar para uma terra mágica, não é? Sem essas realidades tão difíceis de engolir. Mas Pessoas Normais é intenso e profundo justamente porque ele é oposto do que um livro de ficção deveria ser. Ele mostra do que nós, humanos, somos feitos, de dor.
Se você estiver passando por um momento psicologicamente difícil, eu não recomendo a leitura, mas quando você estiver bem, leia! O livro é incrível por mostrar a realidade da maioria dos seres humanos. Medo, traumas, dor. Somos feitos de muitas coisas bonitas, mas de muitas coisas feias também. A vida não é perfeita, principalmente para aqueles que sentem muito, que sentem demais, mas como diz Connell em um raro momento de felicidade: “A vida propicia esses momentos de alegria, apesar de tudo.”
A história de Connell e Marianne se transformou em uma série e você pode assistir na Amazon Prime.