Tudo é Rio

Tudo é Rio

Com uma narrativa madura, precisa e ao mesmo tempo delicada e poética, Tudo é Rio narra a história do casal Dalva e Venâncio, que tem a vida transformada após uma perda trágica, resultado do ciúme doentio do marido, e de Lucy, a prostituta mais depravada e cobiçada da cidade, que entra no caminho deles, formando um triângulo amoroso.

Na orelha do livro, Martha Medeiros escreve: “Tudo é rio é uma obra-prima, e não há exagero no que afirmo. É daqueles livros que, ao ser terminado, dá vontade de começar de novo, no mesmo instante, desta vez para se demorar em cada linha, saborear cada frase, deixar-se abraçar pela poesia da prosa. Na primeira leitura, essa entrega mais lenta é quase impossível, pois a correnteza dos acontecimentos nos leva até a última página sem nos dar chance para respirar. É preciso manter-se à tona ou a gente se afoga.”

A metáfora do rio se revela por meio da narrativa que flui – ora intensa, ora mais branda – de forma ininterrupta, mas também por meio do suor, da saliva, do sangue, das lágrimas, do sêmen, e Carla faz isso sem ser apelativa, sem sentimentalismo barato, com a habilidade que só os melhores escritores possuem.

As melhores frases do livro Tudo é Rio:

“Perder amores é escurecer por dentro, uma memória do corpo que o entardecer evoca quando tinge o céu de vermelho. Para quem está sozinho depois de ter amado, o fim do dia é muito triste. Era nessa hora que ela voltava.”

“Quem podia acreditar em um amor daqueles? Para que ninguém nunca, em tempo algum, se atreva a achar que é a vida que inspira os livros baratos, ela, a vida, sempre disposta a nos levar até a morte, expõe, mais cedo ou mais tarde, aos berros, sua avareza: felicidade em demasia é dívida que não se pode pagar. A conta viria.”

“Na vida, o mal resolvido sempre tromba na gente, ninguém escapa das tangentes.”

“Dalva poderia tantas coisas se pudesse. Mas só pôde o que fez. Quem vê de fora faz arranjos melhores, mas é dentro, bem no lugar que a gente não vê, que o não dar conta ocupa tudo.”

“O amor não é incondicional coisa nenhuma, tem suas fragilidades de matéria orgânica. Estraga, esgarça, rasga, inflama, acaba. E como acaba . É feito gente, depende do que vive.”

“Mas e o amor? O que é senão um monte de gostar? Gostar de falar, gostar de tocar, gostar de cheirar, gostar de ouvir, gostar de olhar. Gostar de se abandonar no outro. O amor não passa de um gostar de muitos verbos ao mesmo tempo.”

“O que mais existe no mundo são pessoas que nunca vão se conhecer. Nasceram em um lugar distante, e o acaso não fará com que se cruzem. Um desperdício. Muitos desses encontros destinados a não acontecer poderiam ter sido arrebatadores. Por afinidade, por atração que não se explica, por força das circunstâncias, por químicas ocultas, quem pode saber?”

“Ele ficava impressionado. Nunca tinha visto alguém tão à vontade, achou muito boa aquela qualidade de conversa, nem via o tempo passar. Do lado dela gostou de ser ele. Viciou.”

“O perdão não muda o passado, nunca se esqueça disso, meu filho. O passado é eterno.”

“A morte põe um olho no passado e outro no futuro e deixa a gente cego na hora, no encontro do que foi e do que será, na tortura do que poderia ter sido. Impõe o desespero do definitivo, trava os movimentos. Embrulha o estômago, indigesta. Faz frio nos ossos. A morte é vida intensa demais para quem fica.”

“É preciso uma coincidência qualquer para que o amor se instale. Existe um certo milagre nos encontros. Não é tolo dizer que o amor é sagrado.”

“Dalva também se arrumou, soltou o cabelo, pôs um vestido antigo de primavera. Reencontrou seu jeito de andar quando saiu com ele pela rua. Naquele dia, esqueceu em algum lugar as toneladas do mundo que carregava nos ombros. Começava a se despedir de seu casulo cinza. Suas asas já tinham cor e forma e rompiam a casca que acolheu por anos a sua morte, se engravidando de uma nova vida. Ainda não era, mas seria uma borboleta.”

Autora: Carla Madeira
Editora: Record

Clique aqui para ler as melhores frases do livro O peso do pássaro morto.

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