Todos Nós Estranhos
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Todos nós desconhecidos

Não é segredo pra ninguém que eu amo filmes sensíveis. Eu adoro a sensação de identificação quando eu assisto um filme onde o personagem derrama a sua alma para o espectador, porque, de certa forma, o espectador também mostra muito de sua alma quando decide assistir um filme com temas tão delicados, como é o caso do filme Todos nós desconhecidos.

Eu comecei a assistir o filme, porque já vinha vendo algumas fotos do Andrew Scott e do Paul Mescal juntos há meses e eu adoro a atuação de ambos, então fiquei muito curiosa para ver os dois atuando juntos como um casal.

O filme começa despretensioso, mostrando apenas o Adam, um escritor de quarenta e poucos anos que mora sozinho em um prédio novo. É tão perceptível a solidão do personagem, que é justamente nesse ponto do filme, logo no início, que a gente decide que já ama o personagem e seja lá qual for a história que ele vai contar.

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Corta para o Harry, um cara que mora no mesmo prédio que o Adam, batendo na porta dele, bêbado, esperando um convite para entrar. Quando Harry diz para Adam que ele não suporta o silêncio do prédio, que ele prefere colocar música ou algo assim para não ter que escutar apenas o silêncio, eu já estava completamente apaixonada por ambos e torcendo para que a história deles tivesse um final feliz.

Mas a história não tem um final feliz e em nenhum momento a gente sente felicidade durante o filme. A história deles é pesada como uma tempestade que destrói cidades inteiras. A dor que acompanha os dois não é uma dor comum, é uma dor reservada para os poetas, artistas e pessoas que já desistiram de viver.

O filme gira em torno de Adam quase que 100% do filme, porque ele perdeu os pais em um acidente de carro há anos e decidiu escrever a história deles. Mas Harry também é um personagem muito complexo, porque apesar dele trazer luz para a vida de Adam, ele vive nas sombras. O relacionamento deles é lindo porque ambos se encontraram em meio ao caos e decidiram compartilhar o caos juntos, mas a gente sabe que por causa de todo o trauma de Adam com relação a sua sexualidade, as coisas não são fáceis, principalmente pra ele.

O filme trata de assuntos sensíveis como sexualidade, depressão, alcoolismo e luto, e é impossível não se emocionar com o fato de que o Adam foi uma criança extremamente triste por sofrer bullying por causa de sua sexualidade, ele cresceu nos anos 80, vocês devem imaginar o quanto foi difícil pra ele e o quanto aquilo o traumatizou.

Eu não posso dizer nada além do que eu já disse nesse texto, porque esse filme é tão surpreendente, que seria muito triste assisti-lo depois de pegar spoiler. Eu recomendo fortemente que você assista sem saber de nada, sem pegar nenhum tipo de spoiler, porque o filme vai te surpreender de muitas maneiras.

Sensível, triste e melancólico, Todos nós desconhecidos não é um filme para assistir com pressa. Você tem que se demorar nos detalhes, na fotografia, na vista do apartamento de Adam e na beleza de dois estranhos se tornando conhecidos. Além de nos presentear com um casal de tirar o fôlego, o filme nos mostra que os traumas sofridos na infância podem nos acompanhar pelo resto da vida, nos impedindo de seguir em frente.

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