Crônicas

A última carta de Virginia Woolf

Alerta de gatilho: suicídio

Há oitenta anos, Virginia Woolf deixava uma carta de despedida para seu marido, Leonard Woolf, antes de se afogar em um rio que ficava perto de sua casa. Até onde se sabe, Virginia sofria de transtorno bipolar, mas ninguém sabe ao certo o que levou Virginia a desenvolver o transtorno bipolar. Alguns psicanalistas e biógrafos descrevem que os meio-irmãos de Virginia, abusaram dela, ou pelo menos, a tocaram de uma forma imoral, enquanto outros pesquisadores dizem que Sir Leslie Stephen, pai de Virginia, sofria de episódios de auto-dúvida e estresse, expressados através de dores de cabeça, insônia, irritação e ansiedade, reclamações parecidas com as de Virginia, o que traz a possibilidade de seu transtorno bipolar ter sido herdado do pai.

A última carta:

Querido,

Tenho certeza de que estou ficando louca de novo. Sinto que não podemos passar por mais um daqueles tempos terríveis. E não vou me recuperar desta vez. Começo a ouvir vozes e não consigo me concentrar. Portanto, estou fazendo o que parece ser a melhor coisa a fazer. Você me deu a maior felicidade possível. Você foi, sob todos os aspectos, tudo o que alguém poderia ser. Não acho que duas pessoas poderiam ter sido mais felizes, até essa terrível doença aparecer. Eu não posso lutar mais. Eu sei que estou estragando sua vida, que sem mim você poderia trabalhar. E você vai, eu sei. Veja que nem sequer consigo escrever isso direito. Não consigo ler. O que quero dizer é que devo toda a felicidade da minha vida a você. Você tem sido totalmente paciente comigo e incrivelmente bom. Eu quero dizer isso – todo mundo sabe disso. Se existisse alguém capaz de me salvar, seria você. Tudo se foi de mim, exceto a certeza de sua bondade. Não posso mais continuar estragando sua vida. Não acho que duas pessoas poderiam ter sido mais felizes do que nós.

V.

virginia woolf

Todo dia é dia de falar sobre suicídio

Depois de ler os livros Por Lugares Incríveis e O fim do mundo é aqui, ambos sobre suicídio, eu consegui entender melhor como funciona a cabeça de uma pessoa cansada. É como se você estivesse no meio de uma tempestade, lutando para sobreviver a uma tonelada de pensamentos ruins, mas não conseguisse. É como se mesmo estando no auge da força física da juventude, você não conseguisse se esforçar mais para sair do meio daquele tormento.

Hoje em dia se fala muito sobre doenças mentais, porque a maioria de nós sofre com algum tipo de transtorno, mas poucos realmente chegam até o assunto suicídio. Infelizmente, o suicídio virou um assunto visto como importante apenas no mês de setembro, todas aquelas hashtags sobre doenças mentais e suicídio, no Instagram, acabam sendo muito mais valiosas para conseguir um alcance maior, do que para realmente ajudar alguém que esteja precisando.

Quantos posts com o título “Pode me chamar, se quiser conversar” circulam pelas redes sociais durante o mês de setembro, apenas para mostrar para as pessoas que existe uma pessoa consciente sobre saúde mental usando o Facebook, quando a verdade é que aquele texto foi copiado de alguém, que copiou de alguém, que copiou de alguém apenas porque todo mundo está postando.

É muito bom conversar com alguém quando as crises de ansiedade, por exemplo, chegam. Você se sente bem porque sabe que existe alguém ali por você, alguém para te ouvir, alguém que te apoia independente do quão bizarro você se sinta por estar se sentindo ansioso sem nenhum motivo aparente. Mas e se você não tiver ninguém para conversar? E se você tiver uma crise no meio da rua? Para quem você vai ligar?

O suicídio não é um assunto para ser desenterrado somente quando convém, ele precisa ser conversado todos os dias, porque todos os dias milhares de pessoas perdem a vida porque não tinham ninguém para conversar sobre o que estavam sentindo. Virginia Woolf tinha o marido, Leonard, para ajudá-la durante seus períodos obscuros, mas mesmo tendo com quem contar, no dia 28 de Março de 1941 ela decidiu que não dava mais para viver daquele jeito e se afogou no rio Ouse, pertinho de sua casa. Imagina se ela não tivesse tido o apoio do marido, provavelmente sua morte teria acontecido muito mais cedo.

Apoie seus amigos e familiares, mesmo que você não entenda pelo o que eles estão passando. Os transtornos mentais já são difíceis de entender por quem está lidando com eles, imagina para quem nunca lidou. Não queira entender, apenas estenda as mãos e abra os ouvidos para que quem esteja lutando contra algum tipo de transtorno mental, se sinta menos sozinho no mundo. Você não terá grandes alcances nas redes sociais e nem aparecerá entre as principais hashtags do Instagram, mas com certeza, você fará uma real diferença na vida de uma pessoa que só precisa de alguém para conversar e contar tudo o que ela está sentindo.

a última carta de virginia woolf

Clique aqui para ler algumas das melhores frases de Virginia Woolf.

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