Midsommar e o abuso da vulnerabilidade praticado pela religião

Midsommar

Midsommar (O mal não espera a noite) é um filme estranho. Logo no início é perceptível que não se trata apenas de uma história de terror, o filme é muito mais do que isso. Ele é uma análise muito profunda sobre como a religião costuma agir na vida das pessoas, sobre como é fácil se deixar levar por coisas malucas quando se está vulnerável e sobre como um coração quebrado pode ser facilmente manipulado por pessoas que só querem um rebanho para chamar de seu.

Dani é uma jovem que está passando pela maior luta de sua vida. Sua irmã matou os seus pais e se matou, seu namorado não parece interessado em dar apoio emocional nesse momento tão triste e ela não parece ser uma pessoa de muitos amigos.

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Midsommar

Sozinha e desesperada, ela busca apoio no grupo de amigos de seu namorado e descobre que eles estão planejando viajar para a Suécia para participar de um festival de verão. Ela acaba sendo convidada para ir junto e aceita, porque ela realmente precisa sair da cidade onde tudo aconteceu. A pressão psicológica pela qual ela está passando é muito grande, além, é claro, do luto.

Quando eles chegam no festival, tudo parece perfeito, é como se eles estivessem no céu. O local é lindo, as pessoas que participam desse festival estão todas de branco e o lugar passa uma vibe muito paz e amor. Como um dos amigos de seu namorado faz parte desse festival todos os anos, ele explica tudo para eles e eles acabam percebendo que aquele festival é um festival religioso.

No início, tudo parece muito legal, pessoas de branco, cantando, dançando, comendo e bebendo, é como se a partir desse festival as coisas fossem melhorar. Mas, de repente, coisas estranhas começam a acontecer e aquelas pessoas que mais pareciam anjos na Terra se transformam em verdadeiros monstros, capazes de matar para conseguir finalizar seu ritual de verão.

Eu fiquei tão chocada com esse filme, que sonhei com ele durante a noite toda. Ele é o tipo de filme que te assusta psicologicamente, mas que também te mostra como as religiões costumam se aproveitar da vulnerabilidade das pessoas que estão passando por um momento difícil. Ele não é um filme de terror comum. Ele passa uma mensagem, e uma mensagem triste, pessoas vulneráveis são um banquete para pessoas más.

Tudo bem que a religião que é mostrada no filme é uma religião pagã. As religiões que nós conhecemos não fazem rituais sangrentos, mas elas usam da mesma arma para prender as pessoas em uma teia de aranha, elas abusam da vulnerabilidade das pessoas para que essas pessoas se tornem mais um tijolo na parede de uma religião, um tijolo que sustenta a religião, porque sem esses tijolos, religião nenhuma vai para frente, sem essas pessoas, religião nenhuma lucra.

Das cinco pessoas que fizeram a viagem para a Suécia, a Dani é a mais vulnerável, porque ela acabou de perder a família toda e, no final, vocês sabem, ela acaba sendo completamente influenciada pelas pessoas daquele festival. É assustador o quanto ela muda, o quanto ela quer vingança, o quanto ela se torna parte daquele festival de horrores.

Uma pessoa vulnerável sempre será mais fácil de manipular.

Uma pessoa vulnerável sempre será mais fácil de usar.

Uma pessoa vulnerável sempre será mais fácil de enganar.

Midsommar conta a história de uma religião pagã que está em busca de iscas para seu ritual de verão, mas, se fosse um pouco menos fantasiosa, poderia contar, também, a história de como milhares de pessoas são enganadas e ludibriadas por pessoas que se aproveitam do sofrimento alheio para ganhar fama, poder, visibilidade e dinheiro.

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