Crônicas

Não existe outra saída

Alerta de gatilho: Suicídio

Fazendo uma rápida pesquisa no Google eu descobri que nos últimos anos a taxa de suicídio no Brasil aumentou significativamente, principalmente entre os jovens entre 15 e 29 anos. E eu descobri que são muitos os fatores que levam uma pessoa a pensar em acabar com a própria vida, entre elas estão as doenças mentais como depressão e ansiedade, desemprego, desilusões amorosas, vergonha, desonra e falta de controle sobre a própria vida. Os fatores são tantos e tão facilmente listados no Google, que é como se todo mundo tivesse copiado e colado a mesma lista.

Quando eu tinha oito anos o pai de uma amiga se suicidou. Eu cheguei na escola e a notícia me invadiu como uma tempestade repentina no meio da noite. Foi quando eu descobri que a tristeza podia fazer muito mais do que deixar uma pessoa chateada por alguns dias. Existiam muitos boatos e justificativas para o que tinha acontecido, mas eu nunca ouvi ninguém dizer o que realmente aconteceu, porque a verdade é que ninguém conhecia ele de verdade e somente ele poderia responder todas as perguntas que estavam sendo feitas.

Alguns anos depois, quando eu tinha quatorze anos, uma menina que estudava na sala ao lado da minha, se suicidou. Ela era sempre tão educada, tinha muitos amigos e era tão bonita. As explicações e opiniões eram as mais variadas e durante semanas todo mundo só falou sobre aquilo. Na época eu só conseguia pensar no quanto ninguém conhecia ela de fato, porque aparentemente ela estava bem, até que no dia de sua morte nós descobrimos que ela não estava tão bem assim. Como uma pessoa vai de bem para um suicídio?

Suicídio, não existe outra saída

Quando o assunto é suicídio, existe uma lista enorme sobre o que leva uma pessoa a se matar, mas ninguém nunca fala sobre o quanto a vida fica sem graça e sobre como dormir é a melhor opção. Todo mundo fala sobre os sintomas que uma pessoa depressiva apresenta, mas ninguém fala que a pessoa mais feliz do mundo pode estar passando por uma luta interna sem fim. Todo mundo aponta o dedo e diz que um suicida não teria o perdão divino, mas ninguém sabe o quanto viver ficou pesado, difícil e doloroso, tanto, que o perdão divino não faz mais a menor diferença.

Eu sei que não é fácil tirar a ideia de suicídio da cabeça de alguém. Quando uma pessoa chega nesse ponto, ela realmente está decidida a fazer aquilo. Mas o mundo não seria um lugar melhor se todas as pessoas que estão pensando em acabar com a própria vida tivessem liberdade para falar, sem medo, sobre isso com alguém? Não seria muito melhor estender a mão ao invés de apontar o dedo? Eu arrisco a dizer que as taxas de suicídio cairiam drasticamente se as pessoas que pensam em cometer suicídio se sentissem compreendidas, acolhidas e amadas.

Que você entenda que tudo o que envolve o outro sempre será um mistério. Cada pessoa é um universo diferente, cheio de tudo aquilo que somente ela sabe. Não cabe a você julgar as razões do outro, muito menos as suas dores. Para as pessoas que estão pensando em tirar a própria vida, não existe outra saída, não adianta você apontar o dedo e dizer: mas existe outra saída. Não, não existe, no momento em que o desespero bate, no ponto de vista da pessoa que está pensando em se matar, não existe outra saída. Por mais que existam outras possibilidade, a pessoa não consegue ver. A pessoa prefere enfrentar o desconhecido que vem com a morte, do que continuar vivendo a realidade que ela vive.

Acolha. Converse. Entenda. Mostre para a pessoa que você está disposto a ajudá-la a encontrar outra saída. O mundo não gira em torno de você, da sua vida e das suas opiniões, existem pessoas que sofrem diariamente e que cogitam tirar a própria vida porque não aguentam mais lidar com tudo isso aqui. Só conseguiremos ser pessoas melhores quando olharmos para o outro com mais cuidado e analisar não somente um rostinho bonito, mas toda a bagagem que existe por trás dele.

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Fotos de Yasin Emir Akbaş no PexelsRenda Eko Riyadi no Pexels

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