Soul é uma animação da Disney Pixar que conta a história de Joe, um músico apaixonado por Jazz desde pequeno. Joe passou a vida toda acreditando que seria um grande músico, que seria reconhecido por isso e que ficaria famoso. Mas a vida tinha outros planos e reservou para ele uma vaga como professor de música em uma escola infantil. Quando surge uma oportunidade para ele tocar piano junto com uma das maiores musicistas do país, Joe fica tão encantado e nas nuvens com essa oportunidade, que acaba sofrendo um acidente.
Ele se vê de repente do outro lado da vida, indo em direção ao que seria sua morte. Mas Joe fica tão indignado pelo fato de estar morrendo justo quando ele recebeu a maior oportunidade de sua vida que acaba surtando e fugindo desse local, indo parar no pré-vida, um local onde as almas ficam antes de serem mandadas para a Terra.
O pré-vida nada mais é do que uma escola onde as almas despertam suas habilidades antes de finalmente nascerem. Quando Joe vai parar nesse local tão inusitado, ele é confundido com um mentor de almas e acaba ficando responsável pela alma 22, uma alma antiga que não conseguiu se interessar por nada e por isso ainda não conseguiu ganhar um passe para ir para a Terra.
Soul é uma daquelas animações que começam despretensiosas, te fazendo rir, mas não se engane, você terminará o filme chorando. Isso porque o filme fala muito sobre propósitos e sonhos na vida adulta e sobre o quanto uma pessoa pode ficar frustrada por não conseguir ser tudo aquilo que sempre sonhou.
Quem nunca ficou chateado por ter tido o rumo da vida mudado no meio do caminho que atire a primeira pedra! Todo mundo cresce ouvindo que existe um propósito incrível esperando por aqueles que ousam sonhar alto. Todo mundo passa a juventude toda esperando por esse grande momento. É da natureza humana sonhar. Todos nós fizemos planos gigantescos durante a nossa infância e juventude e todos nós crescemos acreditando obsessivamente nesses planos.
Joe passa a vida toda tão obcecado pela ideia de sucesso, que acaba não vivendo realmente a vida. Ele quer tanto se tornar um músico famoso, que acaba não conseguindo fazer qualquer outra coisa. Ele não quer trabalhar em tempo integral, não quer sair para ver os amigos, vive brigando com sua mãe por ela querer que ele se estabeleça financeiramente com o homem adulto que é, e passa a maior parte do tempo isolado em seu mundo de faz de contas, onde a qualquer momento ele receberá a oportunidade de sua vida.
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A 22, por outro lado, é uma alma que não consegue se identificar com nada! Ela já tentou balé, culinária, canto, pintura, medicina, filosofia, etc, nada desperta nela a vontade de viver. Para ela, viver é uma perda de tempo e por pensar assim ela não consegue se encantar por nada.
Quando ela vai parar na Terra com Joe, sem querer ela fica presa no corpo dele, ela começa a fazer coisas que nunca tinha feito antes. Comer Pizza, caminhar pelas ruas de NY, tomar banho, ouvir um músico no Metrô. Coisas simples na vida Joe, mas que para ela são coisas extraordinárias pelo simples fato de fazê-la se sentir bem e feliz.
E é aí que vem o maior plot da história!
A maior hater da vida na Terra, a alma mais sem propósito do filme acaba se encantando pela vida e decide que quer continuar vivendo. Joe fica frustradíssimo, porque para ele, ela não passa de uma alma sem propósito que está se aproveitando da vida dele. Mas isso não é verdade, a 22 se encanta com coisas que ele não costumava se encantar, ele não era um grande admirador da vida, ele simplesmente trabalhava e voltava pra casa frustrado por não ser famoso. A 22 conseguiu enxergar algo que ele não conseguia enxergar, a beleza de simplesmente existir, de simplesmente respirar, de simplesmente admirar um pôr do sol.
A 22 não ganhou um passe para a Terra, porque ela encontrou um propósito, ela ganhou um passe, porque mesmo não encontrando um propósito, ela conseguiu enxergar a simplicidade da vida como algo pelo qual vale a pena viver.
Se você assistiu o filme, você sabe o que aconteceu depois, o Joe conseguiu voltar para a Terra e realizou o seu grande sonho, um lugar permanente em uma banda famosa de Jazz. Quando a noite de música terminou, ele perguntou para a musicista: e agora? Ela respondeu: agora a gente vai pra casa e volta amanhã para fazermos tudo de novo. Quando ele escuta isso, ele fica decepcionado, porque ser famoso parecia ser mais interessante na cabeça dele do que, de fato, era na vida real.
E é aí que vem o segundo maior plot twist da história!
Joe, a pessoa mais obcecada por um propósito, descobre que essa história de propósito não muda nada na vida de ninguém e que se você é infeliz sem um propósito, você será infeliz com um propósito também.
Você já percebeu que nós somos seres insaciáveis? Nós nunca estamos felizes com nada! Conquistamos um sonho, ficamos infelizes e queremos conquistar outro. Conquistamos esse outro sonho, ficamos infelizes novamente e queremos conquistar outro sonho. É um círculo vicioso de conquistas que não nos farão felizes, porque realizar um sonho ou ter um propósito não é garantia de felicidade.
“A vida é uma constante oscilação entre a ânsia de ter e o tédio de possuir.” Arthur Schopenhauer
Nada nunca será suficiente para o ser humano! Nenhuma conquista pessoal, nenhum sonho realizado, nenhuma vaga no emprego dos sonhos, nenhuma viagem internacional. Nada nunca será suficiente, porque viver feliz não está necessariamente atrelado a ter coisas ou a realizar sonhos. Viver feliz significa apenas viver, apenas dançar, apenas correr, apenas se alimentar. A felicidade não é um destino final, mas os pequenos momentos que você vive durante a viagem.
Soul nos mostra de forma simples que nossa obsessão por um propósito só nos deixará cansados e frustrados, que sonhos realizados não são garantia de felicidade plena e que viver as pequenas felicidades de um dia comum pode ser a chave para uma vida realmente feliz.
Confira o trailer:
Você pode assistir Soul na Disney+.