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Tem uma música tocando. Na verdade, sempre tem um música tocando, essa é a única forma de seguir em frente. Eu gostaria de entender como pode existir tanta beleza no mundo, assim como tanta feiura, e no final de tudo, nada importar. Talvez seja porque nada faz sentido ou talvez eu não entenda o sentido das coisas, mas é triste olhar para um mundo do qual, um dia, eu não farei mais parte.
Tem o vento gelado depois de uma tempestade de verão, tem o céu azul profundo antes de anoitecer, tem a silhueta das árvores, tem eu, tem você. Como as coisas podem acabar assim? Como uma pessoa pode fechar os olhos pela última vez sem nem perceber? Por que estamos presentes em um mundo com tantos detalhes permanentes se um dia vamos virar pó?
Eu só gostaria de não gostar tanto do pôr do sol ou de como o vento sopra o meu rosto, eu gostaria de não gostar tanto de música ou de como a cidade fica mágica quando anoitece. Eu só gostaria de não me apegar tanto ao que um dia não será visto, nem ouvido, nem apreciado por todos os meus sentidos. Eu só gostaria de participar de um mundo onde tudo sempre estaria vivo.
E eu estou tão cansada de sentir medo, tão cansada de imaginar como os próximos anos serão. É como se cada dia estivesse passando por uma ampulheta, como se a partir de certo ponto da vida fosse obrigatório pensar no fim das coisas.
De repente é dezembro e nós estamos comprando presentes outra vez. Mas nós não somos crianças mais, não dá para ignorar o fato de que o tempo está passando. É bonito e triste ver as luzes da cidade. É bonito e triste fazer parte de tudo isso. Nós estamos passando, assim como os meses que passaram até aqui.
Eu só gostaria de não gostar tanto das luzes de Natal ou de como a lua fica linda no céu de inverno. Eu gostaria de não gostar tanto de arte e de apreciar a natureza. Eu gostaria de não pensar tanto no fim das coisas. Eu gostaria de não me apegar tanto ao que um dia será esquecido por todos nós.
Talvez não existam respostas suficientemente razoáveis para o nosso fim, talvez o objetivo seja apenas passar por aqui. Mas isso não muda o fato de que nós estamos morrendo. Isso não muda o fato de que ano após ano nosso corpo está se deteriorando.
Como esse texto, um dia, nós teremos um fim. Não existirão mais músicas ou pôr do sol. Não existirão mais comidas deliciosas, nem partidas de futebol. Tudo será como era antes de nascermos, o mundo continuará girando e se preparando para novos nascimentos. E tudo que sobrar da nossa existência caberá dentro de uma caixa cheia de ornamentos.
Foto de Miray Bostancı