Em O Estado das Coisas, Brad Sloan (Ben Stiller) tem uma carreira satisfatória e uma vida confortável no subúrbio da Califórnia. Mas ainda assim, não é o que ele imaginava durante seus dias de glória na faculdade. Sloan constantemente compara sua vida com a vida dos seus quatro amigos dessa época, sempre se perguntando como seria se ele tivesse seus empregos glamurosos que pagam tão bem. Depois que ele se reconecta com esses amigos, começa então a se questionar se ele falhou em sua vida ou se, em alguns aspectos, é o mais bem-sucedido.
O filme “O Estado das Coisas” é um filme inicialmente estranho, é como se a infelicidade tivesse sido personificada no personagem Brad. Apesar de ter uma família que o ama, um trabalho que paga suas contas e uma casa confortável na Califórnia, Brad se sente imensamente infeliz. Ele vive se comparando com seus colegas de faculdade que aparentemente têm uma vida mais glamurosa do que a dele, e constantemente Brad se pergunta por que as coisas deram errado.
O filme tem uma atmosfera dividida entre irônica e melancólica, mas a melancolia se intensifica quando Brad vai levar seu filho Troy (Austin Abrams) para conhecer algumas faculdades. Brad parece inicialmente feliz com as conquistas do filho, mas conforme o filme vai se desenvolvendo a gente percebe que Brad está com um pouco de inveja do filho. Quando a gente percebe que ele está com inveja do Troy, a gente acaba julgando esse sentimento porque não é comum um pai sentir inveja do filho, mas depois que a gente entende melhor o que ele está sentindo, a gente acaba entendendo os motivos dele.
Brad era um cara idealista durante seus tempos de juventude, ele tinha sonhos, se esforçava e, assim como todo jovem, queria mudar o mundo. E por querer mudar o mundo, ele acabou se envolvendo com projetos sociais, enquanto seus amigos seguiram carreiras milionárias. Quando ele percebe que o tempo passou e que a vida que ele sempre sonhou nunca se concretizou, ele acaba ficando deprimido e perdendo a esperança de que o mundo possa mudar, além de não querer mais viver ganhando pouco. Ele quer uma vida que ele não pode mais ter, uma vida cheia de fama e de coisas que somente o dinheiro pode comprar.
Quando Troy está prestes a viver sua nova vida na faculdade, Brad sente inveja não das conquistas do filho, mas do começo de tudo, da juventude que o filho tem e que ele perdeu há muito tempo. É impossível não olhar para um rapaz de dezessete anos e não desejar voltar no tempo para viver tudo de novo, a juventude é uma época cheia de oportunidades, tudo pode acontecer, e é disso que Brad sente inveja, dessa vida e dessas oportunidades que ele não poderá viver mais.
Durante sua reconexão com seus amigos do passado, ele percebe que a vida deles não chega nem perto de ser perfeita, e que ele, apesar de não ser milionário, tem uma boa vida ao lado de sua família. O filme fala sobre o quanto nos sentimos para baixo quando nos comparamos com as outras pessoas, sobre o quanto a vida passa rápido e sobre aproveitar as oportunidades que a vida nos dá. Se por um lado, ficamos tristes quando percebemos que algumas oportunidades passaram, por outro, temos que ficar felizes e esperar pelas oportunidades que ainda virão.
A vida passa voando e é impossível não pensar em todas as oportunidades que nós perdemos ao longo dos anos, mas assistindo esse filme eu percebi que não existe uma forma de fazer o tempo voltar. Apesar de todos os nossos arrependimentos, nós não conseguiremos voltar e refazer o nosso caminho, cabe a nós aceitar que tudo acontece por uma razão e que a vida nem sempre será como nós planejamos. Temos a vida perfeita? Não, ninguém tem. Mas temos a vida em si e as novas oportunidades que aparecerão com o passar dos anos. Nossas vidas podem não ter seguido o roteiro que nós planejamos, mas se pararmos para olhar de perto, perceberemos que somos mais privilegiados do que podemos imaginar.
Clique aqui para ler um artigo sobre o filme Lost In Translation.